O impacto das mutações do Coronavírus nas perspectivas sociais

7 de dezembro de 2020
O impacto das mutações do Coronavírus nas perspectivas sociais

André Luís Figueiredo
Geneticista, professor da UNIFASE/FMP.

Desde o surgimento do SARS-COV2, através de mutações espontâneas, em Wuhan na China, em meados de 2019, e a caracterização da síndrome provocada pela infecção do vírus em humanos (COVID-19), os rumos da sociedade mundial ganharam outro direcionamento. Em poucos meses, um problema de saúde pública restrito à China, ganhou o mundo a partir de processos migratórios: primeiro a Europa e os Estados Unidos, depois o restante do mundo.

Várias medidas foram tomadas pelas autoridades sanitárias, encabeçadas pela OMS, para contenção do vírus. Entretanto, nenhuma efetiva. Conseguiu-se um leve atraso na disseminação com o intuito de organizar as unidades de saúde para o enfrentamento à doença. O SARS-COV2 (famoso Coronavírus) é um vírus RNA que, como todos os outros, utiliza a maquinaria da célula hospedeira para se perpetuar, fazendo cópias dele, para se manter vivo e operante. Em função de sua presença, nosso sistema imune tenta por vários mecanismos eliminá-lo. Justamente, em função da diversidade de mecanismos, mediadores químicos são secretados pelas células recrutadas que se acumulam no sangue, gerando, os sintomas e mais recentemente as sequelas da COVID-19.

O excesso de mediadores imunológicos traz os sintomas sistêmicos apresentados nos quadros de COVID-19, sem, contudo, termos medicações adequadas e diretivas à infecção pelo vírus SARS-COV2. Outra observação importante, é com relação à severidade da doença (se o quadro é mais brando ou mais severo), pois acredita-se na carga viral durante a infecção. Hoje, já sabemos que a severidade vai depender de fatores idiossincráticos do paciente, ou seja, de sua constituição genética acerca dos genes de resposta imunológica, que ditará sua resposta frente à infecção pelo SARS-COV2.

Uma das grandes preocupações, neste momento pandêmico, é a taxa de mutação do SARS-COV2 (aproximadamente duas mutações por mês). Em função das taxas de disseminação da doença, quando mais gente infectada, mais possibilidades de mutação do vírus objetivando perpetuar sua espécie. Atualmente, temos por volta de 285 novas mutações já catalogadas, a grande maioria sem repercussão imunológica. Entretanto, uma mutação em especial tem trazido preocupação: A mutação D614G , na proteína SPIKE, que vem a ser a principal ferramenta viral para entrada na célula hospedeira. Nesta mutação, ocorre a substituição do aminoácido ácido aspártico, na posição 614 da cadeia de aminoácidos, pela glicina. Isso faz com a proteína que sofreu mutação seja diferente da original, quando reconhecida pelo sistema imune.

Essas mutações ocorrem espontaneamente, sendo impossível controlar. Na primeira onda de infecção em Houston, por exemplo, a maioria dos vírus circulantes apresentavam a variante 614D (tinham ácido aspártico na posição 614). Já na segunda onda, mais de 90% dos vírus circulantes apresentavam a variante 614G (Glicina na posição 614). Daí a importância do sequenciamento do genoma viral em cada uma das ondas. A única maneira efetiva de conter as taxas de mutação é o isolamento social, pois impede que o infectado transmita o vírus aos seus semelhantes, fazendo com que o SARS-COV2 cumpra seu ciclo de vida apenas naquele infectado. A mutação D614G é a que tem maior repercussão imunológica, visto que o vírus ganha maior capacidade de infecção, sem influenciar na gravidade do quadro clínico do infectado.  É importante salientar que quanto mais infectados, maior a taxa de mutação.

Outra preocupação com as mutações é com relação à produção de vacina, que são confeccionadas a partir de antígenos mais significantes do ponto de vista imunológico, ou seja, pedaços da estrutura do vírus que permitam ao sistema imune um reconhecimento com consequente produção de anticorpos. É possível que quando a vacina entrar no mercado, a cepa viral circulante apresente, em função das mutações, outros antígenos que a vacina não contemple. De fato, isso é uma preocupação, porém em longo prazo. Tudo vai depender da colaboração com relação às novas diretrizes sociais: ‘lockdown’, o uso de máscaras e a utilização do álcool 70%. Para isso, um programa de educação em saúde deve ser implementado e aderido em massa pela população. Só dessa maneira será possível atrasarmos a infecção em massa, para uma imunização efetiva, a partir da vacina. Educação em saúde é a solução!

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Uma alimentação adequada pode ser uma forte aliada na luta contra o câncer, tanto na prevenção quanto durante o tratamento. Com o objetivo de ampliar o conhecimento e o debate sobre o tema, a UNIFASE vai realizar no dia 28 de abril, das 8h às 16h, o Seminário de Nutrição “Nutrição e Câncer: Ciência, Prevenção e Cuidado”. O evento tem como propósito promover a atualização científica sobre a relação entre nutrição e câncer, abordando aspectos preventivos e terapêuticos, além de estimular o pensamento crítico dos alunos de Nutrição sobre o impacto da alimentação na oncologia. “O câncer é uma das principais causas de morte no Brasil e no mundo. Diante do constante aumento do número de casos e da relação entre hábitos alimentares, estado nutricional e a redução ou o aumento do risco de doenças, é imprescindível nos debruçarmos cada vez mais sobre o tema. A Nutrição tem um papel central nesse processo de enfrentamento, com a possibilidade de melhorias na resposta aos medicamentos, redução dos efeitos colaterais e promoção da qualidade de vida. Destaca-se ainda que uma das principais atribuições do nutricionista é orientar, apoiar e promover hábitos alimentares saudáveis, que certamente podem fazer toda a diferença na vida de seus pacientes”, explica Thaise Gasser, coordenadora do curso de Nutrição da UNIFASE. O seminário será uma oportunidade enriquecedora para aprofundar conhecimentos e reforçar o papel essencial da nutrição na saúde pública e na vida dos pacientes oncológicos. A professora Thaise Gasser, destaca a relevância da temática e o papel central dos nutricionistas nesse contexto. “Falar sobre nutrição e câncer também é falar sobre a formação dos futuros nutricionistas. Essa é uma área que exige muito mais do que conhecimento técnico: exige sensibilidade, escuta e atualização constante. O câncer não é uma condição única — ele se apresenta de formas diferentes e exige condutas adequadas à realidade da pessoa. Por isso, é essencial que a graduação prepare o nutricionista para lidar com essa complexidade, oferecendo ferramentas para atuar com competência técnica e compaixão. É importante que a pessoa encontre no nutricionista não só alguém que orienta, mas que acolhe, apoia e contribui ativamente para a sua qualidade de vida”, disse ela.  O seminário é voltado para estudantes e profissionais de Nutrição, bem como demais interessados no tema, e contará com palestras que abordam diferentes vertentes do cuidado nutricional em pacientes oncológicos. A programação completa e as inscrições estão no site: https://www.unifase-rj.edu.br/evento-de-extensao/seminario-nutricao-2025